São Paulo, 08/11/2024 – A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou no final da semana passada que as tarifas de energia elétrica terão bandeira amarela no mês de novembro. A notícia, num primeiro momento, pode ser vista como um sinal de alívio para a inflação, já que em outubro, mês em que a conta de luz esteve na bandeira vermelha, os preços da energia tiveram forte influência sobre a aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O índice oficial de inflação do Brasil subiu 0,56% em outubro, ante 0,44% em setembro, informou hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A energia elétrica foi o item que exerceu maior pressão sobre o IPCA, subindo 4,74% no mês e sendo responsável por 0,20 ponto porcentual de aumento do índice.
A energia elétrica tem peso de cerca de 3,9% no IPCA e, em caso de adoção de bandeiras tarifárias que elevam a conta de luz há efeito relevante sobre o índice, como pôde ser observado em outubro.
Mas não é só a energia elétrica que tem o poder de impactar o IPCA com força. Junto com ela, existem diversos itens que podem mexer com a inflação, dependendo do contexto e das condições econômicas do momento.
Quando falamos em itens voláteis do IPCA, além da energia, destacam-se os alimentos, em especial os in natura, que são perecíveis, como frutas, verduras, legumes e vegetais em geral. E o motivo também é o clima. Assim como a energia depende das condições hidrológicas – do nível de água dos rios que alimentam as usinas hidrelétricas Brasil afora -, o preço dos alimentos pode sofrer variações de acordo com o volume de chuvas ou estiagem.
Por exemplo o arroz, que é a base da alimentação do País. Se há um período forte de secas nas regiões produtoras, a colheita deste grão será impactada, os preços subirão e o IPCA mostrará essa elevação. Se há uma produção acima do normal, os preços podem cair e empurrar o IPCA para baixo. Por depender de fatores externos como o clima, que está cada vez mais imprevisível, a volatilidade desses itens aumenta.
Então, pode-se concluir que a volatilidade de um item dentro do IPCA está ligado ao quanto este item está alheio a ter seus preços modificados por fatores externos, como explica Matheus Ferreira, economista da Tendências Consultoria.
“Além dos alimentos e da energia elétrica, é possível mencionar a elevada volatilidade dos combustíveis veiculares, que dependem dos preços internacionais do petróleo, e do transporte público, bastante influenciado pelas variações dos preços das passagens aéreas”, diz o especialista.
Por falar nas passagens aéreas, elas têm se destacado no noticiário do IPCA, em especial após a pandemia. Trata-se de um subitem do cálculo do IPCA que é diretamente ligado a dois elementos voláteis: o preço do petróleo no mercado internacional, que mexe com o querosene de aviação (QAV), e o preço do dólar, uma vez que a maior parte dos gastos das companhias aéreas estão atrelados à moeda americana.
O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne os secretários estaduais de Fazenda, aprovou uma nova rodada de elevações nas alíquotas do ICMS, imposto estadual, sobre combustíveis a partir de 1º de fevereiro de 2025. Com isso, é esperado que a gasolina, o etanol e o diesel tenham uma rodada de elevação de preços, e isso vai impactar o IPCA.
No caso da gasolina e do etanol, a cobrança aumentará em quase 10 centavos, passando dos atuais R$ 1,3721 para R$ 1,47 por litro – um acréscimo de 7,14%. Já para diesel e biodiesel, a alíquota do imposto estadual subirá de R$ 1,0635 para R$ 1,12 por litro, um aumento de 5,31%.
O IPCA no Brasil é o indicador oficial de inflação e, consequentemente, é o número mais olhado pelo Banco Central nas suas decisões de política monetária. No entanto, a volatilidade de alguns itens do índice pode afetar o julgamento da autoridade monetária, afinal, a política de juros costuma olhar para o longo prazo, enquanto a volatilidade é um fenômeno de curto prazo.
Para evitar que itens voláteis e eventos específicos afetem suas decisões, o BC costuma calcular um índice conhecido como o núcleo do IPCA. Também conhecido como “inflação subjacente”, este indicador nada mais é do que o IPCA excluindo itens mais voláteis. Assim, a autoridade monetária consegue distinguir movimentos transitórios e pontuais nos preços daquelas alterações persistentes e generalizadas que podem afetar as perspectivas futuras para a inflação.
No Brasil, o núcleo de inflação não é divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão que calcula o IPCA. Os núcleos são calculados pelo Banco Central, economistas e analistas, cada qual seguindo uma metodologia.
O cálculo costuma ser complexo, seguindo a metodologia de médias aparadas. Segundo o BC, ele consiste em eliminar do cálculo do índice de inflação, a cada mês, as maiores e as menores variações dos preços que compõem o indicador.